- você não acha que
essa historia é um pouco delirante Danush? – Ladahria o olhava com ar de
preocupação, após ouvir toda historia sobre a Clareira e sobre a dama da água.
Ele havia decidido contar à castanha o encontro com Kelikah na intenção de
verificar a veracidade dos acontecimentos, e como Ladahria era a única em quem
confiava e também a única que poderia saber algo a respeito além das lendas que
ele conhecia, justamente por ser uma das magas ilegítimas mais sabias de toda
região pertencente a nação de Avelon.
- claro que acho,
mas também penso nas possibilidades, afinal eu sei o que vi e ouvi.
- eu entendo,
Danush, mas suponhamos que o que aconteceu não foi uma visão como você mesmo
sugeriu, quem garante que essa mulher não é uma falsária tentando te arrancar
algo?
Pensava nessa
possibilidade pela primeira vez, bem era verdade que o mais provável é que
jamais se encontrariam de novo, sendo assim injustificável ficar perdendo tempo
com isso, mas ele estava ainda muito curioso.
- está certo, ela
pode sim ser uma fraude, mas essa historia de magia, eu sei que você acha
loucura, mas aconteceu algo naquela Clareira que eu não consigo explicar... foi
como se eu não estivesse mais em Tuarah.
Fez-se silencio na
sala da choupana, Ladahria olhava o amigo com ternura, tentando entende-lo e ao
mesmo tempo confortá-lo, Danush havia perdido os pais muito sedo e as
lembranças que tem deles estão cercadas das historias que sua mão lhe contava
para fazê-lo dormir, e agora que ele tinha uma leve esperança de que. Talvez,
elas existissem o aproximava de suas origens, assim como as origens de todo
reino, que assim como o clã misterioso, girava entorno do nome Eauvolch, que
batizava o antigo reino unificado anterior à grande guerra.
- você tem que tirar
essas coisas da cabeça...
- eu sei , eu sei –
mas ele parecia responder mais para si que para ela, de repente levantou-se de
um salto da cadeira de madeira escura – ouça, vamos fazer assim, esqueçamos
tudo isso, vem cear comigo essa noite?
O convite a pegou de
surpresa, mas sempre adora ver Danush animado, e não melancólico como estava a
pouco.
- mas é claro –
levantou-se também e foi em direção à porta – você cozinha.
E saiu depois de
piscar um olho, ele riu, agora precisava preparar seu famoso guisado.
O crepúsculo
tingia o céu de aquarelas vermelhas e douradas, a luz que entrava pela janela
da choupana dava ao quarto de Danush um aspecto sufocante, ele saiu da tina e
enrolou-se com uma colcha de algodão, se aproximou do espelho rachado da parede
leste e visualizou sua figura de guerreiro, assim sob a luz da janela a água
que escorria em seu rosto mais pareciam fitas de suor, os ombros largos e
imponentes o faziam parecer maior do que era, tinha apenas a altura de um homem
mediano e os cabelos muito negros chegavam ao meio das costas, contrastando com
a pele não tão morena, um olhar mais atento a figura de Danush possibilitava
enxergar detalhes que passariam despercebidos aos olhos de estranhos, seus
olhos muito verdes ficavam levemente escuros à meia luz, as sombras exaltavam
ainda mais algumas das cicatrizes de batalha, que agora com o peito descoberto
eram claramente visíveis, porém seu rosto sempre passou ileso em todas as
batalhas, exceto por um pequeno filete vermelho que agora aparecia sob a curva
do queixo, bem onde a misteriosa dama do lago o havia ferido.
Ele passou os
dedos sobre o local e aproximou-se do espelho para examinar mais atentamente,
era uma ferida muito pequena e provavelmente nem deixaria uma cicatriz visível,
mas sua vaidade o fazia enfurecer-se ao pensar na jovem Kelikah.
- aquela
insolente, ele sussurrou. Olhou mais atentamente para o queixo, pensando talvez
em deixar o cavanhaque maior para encobrir a ferida até que cicatrizasse, mas
sua atenção foi direcionada a um barulho na porta de entrada, pelo ranger da
porta quase imperceptível não poderia ter sido Ladahria, ele a aguardava para a
ceia, porém era ainda cedo. Caminhou lentamente em direção a entrada, seus
ouvidos atentos a qualquer mudança no ambiente, enquanto ia sorrateiramente
junto a parede da cozinha apanhou um cutelo no balcão.
- Esperava que
me recebesse mais bem vestido – era Kelikah, inabalável diante da figura
seminua com um cutelo erguido a cima da cabeça, diferente de Danush que estava
boquiaberto diante da mulher que o aguardava à porta, ela vestia uma capa
carmim que a cobria dos ombros aos pés, somente seu rosto era visível, pois o
capuz estava baixado, seus longos cabelos negros trançados para traz deixando
seu rosto mais aparente e sua postura ainda mais formal. - Mas não se preocupe,
esperarei mais alguns minutos para que se vista, temos que conversar.
- VOCÊ NÃO
PODE ESTAR FALANDO SERIO, ENTRA NA MINHA CASA FEITO UMA LADRA E AINDA QUER ME
DAR ORDENS SUA... – ele foi interrompido pela gargalhada dela, mas realmente a
cena era demasiadamente engraçada, um homem de porte altivo enrolado em uma
colcha e esbravejando enquanto sacudia e apontava um cutelo na direção da moça.
Ele calou-se diante da situação e resolveu vestir algo antes que a situação
pudesse ser mais constrangedora – espere aqui, e não toque em nada –
acrescentou antes de entrar para o quarto.
NA: depois de muito tempo voltamos com Eauvolch, segunda
aparição de Kelikah ^^, espero que gostem, beijos
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