Poema inspirado em Augusto dos Anjos, na boemia dos versos, no romantismo radical das palavras, na doença que dilacera o corpo e também a alma, nos corações rasgados, e num tempo que a dor era mais bela que a alegria
Meus desejos mais profundos são-me negados
Assolada pelo desespero só vejo dor a minha frente
Em tempos difíceis como esse, não sei em que pensar
Faltam-me palavras pra descrever o habita o meu coração
A solidão invade o meu quarto disfarçando-se do inverno que ainda não foi
Sonhos perturbam-me quando estou dormindo e pensamentos quando estou acordada
Sem direção sigo a rotina que me foi imposta, não por opressão, mas porque não tenho forças para vencê-la
Tudo que eu gostaria era de ter de volta aquela paz silenciosa que eu sentia o tempo todo, mesmo que por alguns instantes
Mas o que tenho é o escuro da noite a me fazer companhia, enquanto as horas arrastam-se como cobras à espreita prontas para devorar-me
Um conjunto infinito de desventuras materializa-se a minha fronte e desmoronam a fina barreira de segurança que construo a minha volta todos os dias
Sem precedentes vejo o fim de cada conquista minha com a rapidez de antílopes sendo caçados pelo terror que inebria as lutas antes combatidas e que agora não são vívidas
Perdida na tempestade de acontecimentos que fugiram ao meu controle, o que controlo agora são somente sorrisos discretos que encobrem a dor e vagos olhares que dirijo àqueles que amo
Mentiras tão sinceras que ate fazem-me acreditar que a esperança não me abandonou, que ainda não estou completamente morta no mundo mágico que fantasiei e que foi tão cruelmente desmascarado
As lagrimas secas que não escorrem pelos meus olhos só podem ser vistas olhando fundo em minha alma que sangra. Pessoas passam e encontram-se num emaranhado de tramas fingidas e levianas e não são capazes de ver
Sem anseios pelo amanha, e desiludida dessa terra que tão traiçoeiramente ceifou, como o ceifeiro mortal que leva as almas quando é chegada a hora, os meus dias restantes sigo a andar perambulando sobre essa mesma terra a qual já não pertenço
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